quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sozinho

O celular pousado no colo, foninho no ouvido, Mix. Entro no Orkut, dois recados, um de agradecimento e o outro corrente. Fiquei alguns dias sem mandar nenhum recado, exceto o de parabéns a quem fazia aniversário. E como eu pensava, ninguém me mandou recado, nem pra perguntar como eu estou, o que eu ando fazendo, que são perguntas frequentes... Senti qualquer vontade de escrever a alguém, eu queria poder apontar alguém dali, daquela página de amigos, e dizer Em você sim eu posso confiar! Mas não encontrei ninguém. Passava o cursor de amigo em amigo e em nenhum eu senti 'comunhão' para dizer aquelas prezadas palavras citadas acima.
E então eu me pergunto Por que sou tão incapaz de confiar em alguém?! Eu devo ter pego trauma na infância, de pessoas. Acho que confiei demais nas pessoas, esperei delas o melhor, pensei que as pessoas fossem anjos, mas me enganei perfeitamente e quando percebi que as pessoas são o que são, mesquinhas, egoístas, hipócritas, decidi me afastar e me prender a mais profunda solidão. Sabia que sozinho poderia conhecer-me melhor, poderia aproveitar as boas coisas da vida, sozinho. Na minha solidão eu inventaria um mundo perfeito, onde não existisse pessoas falsas, nem violência, nem guerra. Meu mundo seria cheio de alegria, e minha companhia seria meus amigos imaginários, meu mundo seria colorido, feliz.
E num belo dia chega uma daquelas pessoas ignaras, que pensam ser donas da verdade e diz Não se deve viver de fantasias, a realidade é esta, e esta que deve ser vivida. E mostra: trabalho, família, sociedade, comprar, vender, reciclar. E eu digo Realidade de quem? Tua? Quem tem o direito de me impor isso, e dizer que deve ser a minha realidade? A minha realidade é o mundo que eu crio, o mundo como eu o enxergo, a minha realidade sou eu. O mundo é um espelho, e nós vemos nele o nosso reflexo. Como sou, assim ele é.

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Detesto tanto seguir como conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Aquele que não é terrível para si, não incute terror a ninguém,
E só aquele que inspira terror pode comandar os outros.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
Acocorar-me, sonhando, em desertos encantadores,
De me chamar a mim mesmo, por fim, de longe,
E de me seduzir a mim mesmo.

(Nietzsche - O Solitário)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A chuva

Tardes chuvosas, e eu encolhido no canto do sofá, olhava lá fora, o céu fechado, as gotas batendo no chão, se juntavam a outras que escorriam pelo canto do asfalto. Nesse momento é que eu me sentia absolutamente sozinho. Aquele era o momento mais privado que eu tinha com minhas lembranças. A chuva trazia tantas e tantas coisas, momentos bons, momentos tão diferentes, fragmentos de vida e de felicidade que se passaram e que já não existem, mas que eu os cultivo religiosamente em minha memória. É como se o tempo estivesse parado, como se os deveres a fazer não existissem, como se aquela chuva, caindo ali, fosse exclusivamente para eu vê-la, para eu contemplá-la e lembrar que minha vida era, contudo, boa. Que eu e a chuva tinhamos qualquer coisa em comum, qualquer impressão, qualquer essência. Eu em silêncio, e ela a falar. No toque de suas gotas no chão, na parede, no vidro, eu podia ouvir um doce canto que invadia minha alma, que dizia Somos irmãos. Somos o mesmo, eu e tu, na tua solidão somente eu estou aqui para te amparar, te falar, te fazer não se sentir sozinho. Eu que te mostro neste momento, o quanto a vida tem sido boa pra ti. O quanto tu tens desfrutado dos bons momentos como aquele que passavas com teu avô. Ah, meu avô...!
Transparece em tua face a tristeza ao lembrar-te do teu velho. Lembras de quando saías a passear pelo parque em dias de sol? Te comprava sorvetes, brinquedos, livros, tantas coisas. Quanto te ensinou, quanto foi bom para ti, quanto te amou. Que serias de ti hoje, se ele não tivesse feito por ti o que fez. Agora já não tem ele aqui. E não há nenhuma outra pessoa no mundo que possa te amparar como ele, que possa te ensinar com o amor que ele ensinava, que te faça forte. Terás de aprender a viver sem ele. Choravas quando ele dizia que ia partir um dia, e que era hora de usar o que aprendera com ele. Pensavas tu, que esse dia nunca chegaria, que o destino não seria cruel em tirá-lo de ti. Que a vida sempre fora perfeita com ele, e que com ele não saberias viver. Mas o dia chegou, e o destino levou-o para longe de ti. Foi então que percebeste quão cruel é a vida, e quão solitários somos sem o amor.
Pensamentos tão melancólicos, tão tristes, acompanham todos os meus dias. Trazendo e levando. Assim faz a chuva que continua a cair, lentamente, branda, serena.