segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Vulnerabilidade

Cansei de tanta hipocrisia. Eu falo tanto sobre isso, mas parece que no fundo eu não passo de um rosto bonitinho querendo ganhar a vida assim. Acho que não passo de uma aparência, uma máscara, um falso-self, querendo mostrar um lado bom às pessoas, querendo mostrar quem eu não sou na realidade. Isso é irritante, é ostensivo. Por vezes tenho vontade de me torturar por isso. Mas eu definitivamente cansei. De agora em diante quero ser meu self verdadeiro, nada de personificações, nada de representações, nada de tentar ser outros. Não é porque aquele meu amigo é legal com suas ações, suas palavras, que eu tenho que ser como ele! Onde eu estava com a cabeça quando aquiesci isso?! Agora tenho fé que posso ser tão legal e simpático como os outros sendo eu mesmo, talvez eu possa me revelar um monstro na presença dos outros, ou talvez um doce de pessoa. Fato é que vou ser eu mesmo, de agora em diante, é assim que se cresce. Doa-me o quanto doer, que me torture o cosmos cada vez que eu não for eu mesmo!
Quanta palhaçada. Eu amo música, sou taciturno, vaidoso, amo estar com eles e elas, que tal ser eu mesmo? Bom, que o sejas, de agora em diante tem que ser assim! Alguém aí, se ler pode murmurar entre dentes Nossa, demorou tanto pra descobrir isso! O fato é que desde sempre eu soube disso e sinceramente tentava praticar o self-encarnado, mas enfim, a hipocrisia é tanta que quando pensava ser, não era. Mas agora, mais do que nunca, eu vou levar isso com seriedade. Nada de sorrisos maquiados, nada de palavrinhas amáveis quando me sinto péssimo. Nada de falsas tristezas quando estiver excitado, nada de assuntos que não me interessam. Muito teatro, muito música, muita leitura boa, muito amor, muita lágrima, muita tristeza, muita floresta, muita magia enfim, realidade ou fantasia, só quero fazer o que tiver de fazer espontaneamente. Chega de mentiras e hipocrisia. E aquela garota... vai ter que ouvir umas boas verdades! Eu não amo ela, inventei tudo isso como mais um sinal de minha falsidade, mas tudo será colocado em pratos limpos agora. Tudo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Bom

Certa vez me mandaram crescer. E eu me perguntei o que era crescer? Em quê aquela pessoa queria que eu me tornasse? Um homem estressado e atarefado com muito trabalho e conta pra pagar, um homem que acha que ser pai é trazer o pão para a mesa apenas, e que esquece que mais que isso, dar carinho, atenção, amor aos filhos é educá-los, é ser pai.
Aí está o senso de direção das pessoas. Crescer é deixar de fazer o que se fazia quando criança, é se preocupar com "coisas maiores", trabalho, estudo, dinheiro, trânsito, política. Estas são as coisas maiores. Quanta prepotência e ignorância num lugar tão pequeno. Se isso é crescer, prefiro continuar pequeno, e ser quem sempre fui. Acocorar-me e seduzir-me a mim mesmo - como dizia Nietzsche. Olhar de dentro do carro lá o horizonte, o sol se pondo maravilhosamente, os pássaros a voar em frente àquela natureza tão bela. O vento que lentamente faz os galhos se inclinarem e tremem suas folhas verdes, tão vivas. A aragem batendo no rosto, a cabeça levemente inclinada para trás, sem se preocupar com o mundo pequeno, apenas a sonhar, a sonhar sempre. A sensação branda da paz, o espírito da natureza que me leva para seu mundo de sonhos, seu mundo verde e florido, de sol, de raios, de sons, de água, de luz, de tato e de cheiro. Que paz. Que alegria contida, que sensação boa de liberdade. Sensação de estar em harmonia com o universo, sensação de bem estar, de direção, de repouso, do divino, do eterno, do belo. Como é bom viver. Como é bom ser nós mesmos. Como é bom aproveitar essa vida maravilhosa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mundo

Me pergunto de instante em instante a quê devo seguir. Afinal, o que devo fazer, qual é mesmo o caminho. Qual das minhas idéias e ideais é a verdade, e por que é tão difícil descobrir. Quando olho no espelho, vejo a figura de um garoto que não dá mostras de ter mais que 16 anos. Mas aí quando lembro que sou de maioridade, tento me conscientizar das responsabilidades que me ensinaram, dos caminhos que me propuseram, ou dos que me foram muitas vezes impostos. E por um momento eu me vejo convicto de assumir essas responsabilidades e de seguir esses caminhos. Mas de a pouco estou lá novamente, vivendo em favor do meu mundo. Que mundo é esse? Um mundo absolutamente distante e estranho a qualquer um destes paradigmas que tentaram me impor. É onde eu encontro as ocupações com que me identifico, é onde está o conciliador das minhas pré disposições. Eles não conhecem esse meu mundo, sabem vagamente que eu vivo em favor de "outras coisas", mas estão longe de descobrir que coisas são essas.
O dinheiro nunca me atraiu. Por vezes sinto mesmo aversão ao dinheiro. Pelos ambiciosos, minha repulsa é inata. De maneira nenhuma vivo em favor do dinheiro. Eles querem que eu faça isso, mas eu não quero. Hoje ainda pensei, num segundo, que o sentido da vida na terra seria trabalhar, ganhar muito dinheiro e viver bem. Mas senti aversão logo à essa idéia. Sei bem que muitos vivem em favor disso, mas não eu. Eu vivo por outras coisas, e ocupo meu tempo com elas. Minha maior irritação é quando me tiram do meu mundo, e tentam me colocar no deles. Às vezes chego a detestá-los por isso, sei que nada posso fazer. Minha máxima é que o maior pecado da humanidade é a hipocrisia. Eu tento ser sempre sincero, e por isso, detesto cada vez mais o mundo deles, ao passo que amo ainda mais o meu. Ainda que enlouqueça, não vou ser escravo do dinheiro, nem das ocupações triviais e superestimadas dessas pessoas.
Ninguém pede para vir ao mundo, e se vem, deve ter ao menos o direito de escolher qual caminho seguir. E eu escolhi, estou seguindo, sempre contente, por minhas estradas, com minhas carruagens, nessa grande corrida para a luz.
Agora vou orar e dormir. Sei que amanhã vai ser um dia como os outros, faço o que eles querem forçosamente, e sempre com a cabeça no meu mundo. Eu não penso no futuro, não que eu não queira, é que não consigo. Pra mim, a vida é o agora. Santo Agostinho já dizia que não se pode raciocionar em um tempo que não existe: o passado e o futuro. Tudo que temos é o presente, e é por isso que quero desde já ser seguidor de minhas vontades, e não escravo das deles. Deixa eu correr, deixa eu mergulhar de cara nesse mundo, aí está você, sempre sorrindo, sempre de braços abertos, cá estou eu, vamos viajar juntos e chegar ao nosso destino.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Medo

Eu sou aquele que anda pelos vãos à meia-noite.
Que some na escuridão do abismo sem retorno,
Quando me vêem já estou a cercá-los
Por todos os lados.
Se amedrontam, e fazem
Expandir seu medo por todo o cosmo.
Seus gritos e gemidos se tornam uivos hediondos.
Os rostos tristes e melancólicos trazem
Na figura as marcas da morte e da dor.
Seus passos são errantes,
Sua tez é escura como carvão esfregado
Em piso branco.
Sua voz esganiçada chama os lobos,
Seus lábios trêmulos e ferozes
Impunham-lhes medo e fazem seus cabelos arrepiarem
Até ao chão dos seus pés.
Em meio à madrugada saem às ruas
E sua sombra é mais que suficiente para espantar multidões.
Os dentes tão brancos e tão reluzentes
Brilham à quilômetros.
Atraentes, predadores, noturnos,
Saem em busca da sua energia.
Os cabelos longos e lisos
De um castanho avermelhado de doer os olhos.
Sua beleza e magnificência chegam ao pico
De um padrão extravagante.
Assim mudam, ora monstros, ora príncipes.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Diga

Oi, eu não preciso
Nem do teu dinheiro
Nem do teu tempo
Nem da tua atenção
Nem da tua vela.
Olha pra mim e diz
Quem pensa que eu sou?
Um monge? um súdito? um miserável?
Diga o que quiser
Talvez um dia você acerte
Mas olhe pra mim
Eu pareço bom?
Pareço?
Finja lá fora que não me viu
Porque eu não estou aqui
Eu não estou aqui.
Vivendo por viver
Sem falar nem sentir
Sem ao menos dar valor
Então me diz se eu posso continuar assim
Com essa mente miserável
Com meus trapos
Com minhas desconfianças
Com minha vida que não vale nada.
Num mundo onde ninguém
Pode ser o que é
Ainda mais eu, que sonho
E penso em liberdade.
Eles te amarraram e querem
Que você obedeça
Mas não se submeta
Indigne-se e grite
Você não precisa fazer o que eles querem
Grite.
Diga a todos quem você é
E o que quer
Era pra ser assim
Não desista ainda
Você ainda tem forças.
Resista, continue
Você está quase chegando
Chegando na linha de chegada
Chegando no seu objetivo
Então continue
E faça-se ouvir a tua voz.
Grite bem alto
Sim, grite para todos saberem quem você realmente é.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Elas

É tão bom escrever. Esse monte de palavras, todas postas em ordem, ou não, mas formando sempre um painel, extenso e lindo. Tantos assuntos pra se tratar, tanta gente pra falar, tanta música pra tocar, tanta coisa pra fazer, mas enfim, vamos escrever. Sobre as flores, sobre o mar, sobre família, sobre amigos, sobre o fogo, sobre a água, sobre a vida, vamos escrever. É tão bom! E as bibliotecas, que lugares maravilhosos. Aquela imensidão de livros, todos empilhados, amontoados, enfileirados, sistematicamente postos um ao lado do outro - esbanjando conhecimento. Uma fortuna de riquezas, uma fortuna de preciosidades. Se eu pudesse, passaria todo o dia e a noite lá dentro, a ler, a ler, a ler...
Mas também teria de passar tempos e tempos numa escola de Artes. Só o nome já faz com que meus olhos brilhem: Teatro, Pintura, Música, Desenho, Escultura, Artes Plásticas, Literatura...
O que mais me atrai nesse mundo é a Arte, e a Religião, e a Filosofia, e a Psicologia. Sem falar delas - criaturas maravilhosas, as obras-prima da Natureza, seres de tão delicada feição, de tão atraente tez, e as curvaturas do corpo, e o falar doce, os dentes brilhantes, os cabelos tão perfeitos, tão lisos, tão cacheados, tão chamativos, tão atraentes, a boca tão perfeita em seus contornos, todo o corpo de um deslumbre e beleza vibrante, fazem meu o coração palpitar, a querer saltar, fazem meu corpo estremecer, meu espírito ficar exaltado, e meus sonhos se tornarem cada vez mais altivos. Elas - que me fazem querer buscar cada vez mais e mais no prazer tempestuoso e nas carícias ternas. Com seus olhos faiscantes me atraem e com sua voz de canto me consomem. Tais são elas, mulheres, criaturas tão exuberantes, que fazem da minha vida o que ela é, tão altiva, tão ousada, tão sonhada, tão vivida.

Passageiro

Como viver é bom..! No filme brasileiro Quase Dois Irmãos, o protagonista diz num momento: "Existem duas vidas. Aquela que vivemos e aquela que sonhamos." Bom quando essas duas se encontram, e conseguimos aproveitá-las. Nossas fantasias às vezes se tornam realidade e isso que parece colorir a vida. Ainda que cansamos, ofegantes continuamos seguindo, sempre esperando um futuro melhor. E esse futuro vem, inevitavelmente, o tempo vem. Já o que acompanha o tempo só nós podemos decidir.
A vida é tão doce, ela dá tantas voltas e se encontra sempre num ponto bom, de paz e tranquilidade, como estou aqui agora. Sei que de a pouco alguém pode se irritar perto de mim, ou até mesmo eu, mas e daí? Sempre passa, o sol sempre aparece depois, e a vida sempre volta a ser bela. Não me preocupo mais com os momentos de turbulência - são tão passageiros.
Existe o amor, a amizade, o carinho, o sol e as flores. Que adversidade pode ser maior que tudo isto? E bem maior ainda temos lá em cima Ele que cuida de nós. Então não há com o que se preocupar. A vida também é passageira, e creio que temos que correr - não afobados para fugir de algo, mas sim para fazermos o máximo de coisas boas e do bem nessa vida. Ler o maior número de livros, abraçar o maior número de pessoas, passar por quantos lugares pudermos, enfim, vamos correr, precisamos fazer o bem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Verdade

Às vezes sinto medo.
Isso me impele à buscar a verdade.
Não a refugiar-me na verdade,
A verdade não é refúgio,
A verdade é só a verdade.
E me pergunto o por quê,
De às vezes buscar a mentira.
São tantas.
Tantas mentiras e apenas
Uma verdade.
O medo impele à verdade.
A tranquilidade e a insegura à mentira.
Não iria querer assentir
Que devêssemos viver sob o medo.
Mas parece uma conclusão lógica
Se continuarmos naquela mesma linha
De raciocínio.
Viver sob o medo.
Não parece saudável,
nem justo.
Mas quem sabe seja a verdade.
Verdade.
Verdade.
Verdade.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Boa alma

- Filho, só um minuto.
- Pois não.
- Estava vindo por aquele banhado ali, bem tranquila, quando três cachorros que iam passando avançam em mim.
- Puxa.
- Moro eu com meu velho só, a gente morava no S. Sebastião, aí viemos para cá.
- Ah sim.
- A gente tem um fusca, mas meu marido saiu, e eu tive que vir apé.
- Cansa .
- O pior são esses cachorros, um me mordeu na canela, estou com medo até agora.
- Que coisa.
- Meus filhos moram pra lá, e somos pobres. É difícil ter que ficar andando por aí com perigo de cachorros soltos.
- Deveriam ter prendido.
- Tenho dois em casa, mas estão presos, nunca deixo que escapem.
- Assim que tem que ser.
- Bom, eu vou indo, muito obrigada pela atenção, você é um menino muito inteligente.
- Mora só a senhora com o velho?
- Sim.
- Espere um minuto.
- O que foi?
- Preciso te entregar isto.
- Não, não precisa, guarde.
- Por favor, aceite.
- Meu filho, você é um anjo que Deus colocou nesse mundo para ajudar as pessoas.
- Espero que sim.
- É evangélico?
- Graças a Deus.
- Vou à sua igreja qualquer dia.
- Isso, vai lá fazer uma visita, não pelo dinheiro, mas pela generosidade.
- Se cuide.
- Deus cuida de nós.
- Ele que te dê em dobro.
- Amém.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Palavras dignas de um louco!

Não consigo mais controlar minha loucura. Sinto que já estou atingindo uma nova fase, avanço mais e mais a cada semana. Meus distúrbios emocionais são cada vez mais intensos. Ontem me entreguei a uma explosão de cólera, nunca tinha deixado ela se exteriorizar, me irritava sempre e me irrito, mas o fato é que eu nunca tinha visto isto do lado de fora. Nesses últimos dias estou com uma obsessão tamanha por ser sincero, que se percebo que estou sendo um pouquinho hipócrita, já é motivo para a auto-punição. E me irritando ao máximo com uma circunstância tola, onde feito um serviço errado, tentaram fazer eu reconhecer meu erro dizendo que sempre fazia tudo errado. É claro que eu não faço tudo errado, de 20 serviços, talvez um saia errado, mas enfim, ignaros sempre generalizam. E o fato é que eu estava com pressa, tinha que ir até o centro de Curitiba na biblioteca trocar meus livros, já tinha-os em mente, Shakespeare e Bakunin. Naquela pressa minha cólera explodiu como nunca havia sido antes. Comecei a falar muito alto e a gesticular feito um louco, as razões desciam estampadas na minha mente, eu não deixava espaço para ninguém tentar me persuadir de algo diferente. Fiquei abismado depois da sessão, me orgulhei imensamente de mim mesmo, de poder alcançar o grau máximo da sinceridade, e não reprimir minha cólera. Me senti um Beethoven nos seus ataques de cólera. Depois disso me senti brando, calmo, o sangue corria tão alegre pelas veias...
Ora me sinto tão excitado emocionalmente, que desato em risadas, não gargalhadas, para que meus pais não pensem que eu cheguei a um ponto tão crucial. Bom, fato é que percebo que algumas coisas se repetem em mim com alguma frequencia, como esses ataques de riso. São coisas absurdamente idiotas que me fazem rir. Às vezes tenho vontade de ir a algum cemitério, desde garotinho eu sempre adorei ir aos velórios, lá dentro tinha alguém em prantos do lado do caixão, lá fora os outros falavam sobre negócios, contavam piadas, nós ficávamos correndo por dentre os túmulos, alguns ousavam pular em cima deles, eu não tinha nem medo, nem desconsideração, de qualquer forma aquele lugar me atraía e muito.
Por agora, estou absolutamente apaixonado pelo teatro, se pudesse estar todos os dias lá, estaria. Mas nem todos os dias tem espetáculo, nem todos os dias eu posso, nem todos os dias a galera aqui tá disposta a me dar uma carona. Bom, mas quero pular de ponta cabeça nesse mundo encantado e mágico da arte e da loucura, que se danem os outros. Começo com Shakespeare, juntando tudo que peguei dele para ler, soma umas 12 tragédias dele, ora, bom começo. Quero ler o teatro grego, e todos os outros grandes dramaturgos e autores de peças de teatro. Nomes martelam na minha mente: Bakunin, Wagner, Schoppenhauer, Schumann, Thaikovsky, todos apresentavam algum tipo de distúrbio emocional. Eu não admiro esses caras por opção, não, eu simplesmente me identifico com o caráter de cada um deles, que apesar de serem tão diferentes entre si, no fundo não passam de maníacos lunáticos, e é isso que me chama a atenção. Caras como Schubert, Mozart, Kant, Descartes, Haydn, são todos lúcidos, são todos normais, e fato é que eu os admiro na sua arte, no seu pensamento, mas não no seu caráter. Eu não sinto por ter essas inclinações, eu as tenho, as cultivo por saber que são minhas características, jamais quero ser ou voltar a ser hipócrita. Quero ser sincero em todos os lugares, quero seguir meus pensamentos, quero seguir minha arte, minha intuição, minha voz. E nada mais vai tirar essa minha devoção.
Às vezes fico quase depressivo, quero estar longe, questiono o por quê de ter que estar aqui, quando em verdade poderia estar em tantos outros lugares. Era autista, hoje não sou mais. Mas quando pareço estar quase atingindo a lucidez plena de minha existência, tenho crises, não sei em que pensar, não sei que fazer, parece que eu não deveria estar aqui, é como se uma força me privilegiasse com tantos talentos para ter sucesso, e outra força me jogasse na mesmice de todos os dias. Penso às vezes, que se tivesse tido em meus primeiros anos um estudo sistemático, talvez me teria tornado um prodígio. Por vezes imagino que sou um predestinado à castidade e santidade eterna, que devo me aprofundar em estudos religiosos, na busca pela purificação do espírito, pela ascensão espiritual. Penso também que posso ser um novo filósofo, que irá contribuir muito para o pensamento filosófico. Penso que posso ser um compositor ilustre, um pintor, um escritor de contos, alguém que veio para amar outra pessoa e morrer por ela. Ou se sou apenas um louco. Deixe que o tempo fale por mim, vou continuar na minha sinceridade e hei de descobrir quem sou e que missão tenho aqui.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Bons tempos

Saía para fora de casa na certeza de que alguém estaria a me esperar no portão. Era sentar no meio fio e dali dez minutos cercado eu estava, amigos, garotas, crianças, alegria, risos, vida. Todos me olhavam com olhos de gratidão, de bondade, de amizade, de benevolência, de carinho, de amor. Via-lhes nos olhos a alegria de estarem sentados do meu lado. A admiração, o bom estado de nossas almas. A certeza de não estar sozinho, de ter amigos verdadeiros, de tê-los comigo sempre que precisasse. O abraço, o aperto de mão sincero, a brincadeira sem malícia, o olhar jubiloso, a alegria vibrante. Tais eram meus dias. Bons tempos! Parecia tudo tão simples, hoje parece-me que passou tudo tão rápido.
Hoje, ao sair para fora não tenho mais fé em encontrar um sorriso sincero, um aperto de mão digno, um abraço amigo, uma palavra doce, uma sintonia. Tudo que tenho é um aceno de cabeça por obséquio, um bom-dia sem vontade, um aperto de mão rápido e insensível. Esta é minha vida agora, estes são meus dias, sem cor, sem amor, sem vida. Como sou infeliz ..!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amar

Quem diria hein, depois de tempo sem profundos sentimentos, sem apertos no peito, sem lágrimas nos olhos, sem lugares encantados, sem pensamentos mágicos, sem música com alma, sem calorosas emoções, agora estou aqui com o coração novíssimo outra vez, pronto para amar novamente. E eu a encontrei. Como nunca a vira antes, linda, loira, encantada, perfeita. Sim, ela já está ganhando meu coração, e eu outra vez sem censuras quero me entregar de corpo e alma a esse novo amor. Vale a pena chorar, vale a pena sorrir por um amor, vale a pena sonhar e viver apaixonado, por ela, por todos, pela vida! Tudo é festa quando o amor toca o coração. E eu o sinto outra vez bater, estou abrindo essa porta para ele entrar e fazer daqui sua mais nova morada. Serei o amante mais devoto a ela, não importa quantas vezes quebrei a cara, quantas decepções, quantas mentiras, quantas desilusões, eu amo e continuarei amando. Enquanto esse peito tiver fôlego, enquanto meus lábios puderem se mover, e meus olhos abrirem, eu viverei cantando e sonhando. Flores, corações, violinos, muita música, muita poesia, eu voltei amar. Eu voltei a ver a vida colorida, eu voltei a ser jovem, eu voltei a ser vivo!
Toquem trombetas, voem pássaros, sopre o vento, brilhe o sol, caia a chuva, acenda coração, não temos mais medo de viver por amor. Não temos medo mais de cantar serenatas à janela da bem-amada. Não temos medo mais de ser feliz. Tudo que sabemos, é que a vida é bela enquanto se tem amor. E que cantando, saltando, gritando e sorrindo nós vamos viver a vida! Passem os arames, os buracos na estrada, os rios, a neblina, o pássaro da desilusão, nada fará com que paremos de acreditar que amar e sonhar valem a pena! Que rasque nossa roupa, que molhemos os pés, que saltemos as pinguelas, o importante é viver! E se, porventura, lá na frente estivermos tristes, olhemos pra trás e lembremos: Sofri, me machuquei, estou exausto, mas amei, com todas as minhas forças eu lutei por um amor e venci. Eu vivi a vida!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Impressões!

hôhôhô
Prossegues-te em vantagem
Olha a capa
está suja!
Quão vulneráveis somos!
E com que facilidade nos entregamos!
Hoje, dia de sol, dia de chuva,
Uma voz vem do céu
Eu não a ouço
Mas meu querido a ouve
Ele é minha impressão
Não minha consciência!
Que insensatez seria dizer que impressões são parte da consciência!
Isso é absolutamente subjetivo!
Subjetivo - a mim.
Quanto o sou!
Quanto acredito ser!
Mas uma dama de vermelho estás a caminhar por aquela passarela e a olhar-me!
Talvez me conheça, talvez não.
Ou de uma outra vida, quem sabe.
Azul e alaranjado. Por que essas cores?
Por que não vermelho e verde?
Por que mãe é mãe e pai é pai?
Por que vizinho é vizinho e tia é tia?
Por que eu sou tão infantil e penso ser tão adulto?
haha
Aí está!
Tenho 18 anos, mas nada que faço corresponde a essa idade!
Num minuto sou um garoto de 8 anos e noutro sou um velho de 50!
Nada absolutamente vai fazer eu parar de acreditar que a vida é sim, curta!
E eu também não acredito que esteja a perder meu tempo escrevendo!
E escrevendo ainda pra ninguém ler , porque nunca ninguém entra nesse blog!
Você tem que comentar nuns 50 pra receber um comentário!
Aos diabos com suas idéias!
Eu tenho as minhas, ou não.
Acho que não passam de impressões!
Impressões! Bom título pra esse post!

Obscuro

Terceiro de hoje, foda-se.
A cada instante, um estado de espírito.
A cada volta, uma moeda, um símbolo, uma luz.
Acho que achei uma palavra que me define: obscuridade!
Oh, obscuridade, quão grandiosa sois!
Teus olhos negros escondem a negligência de uma geração incrédula!
Teus passos seguem-me como os me seguiam a luz!
Que tenho eu em querer-te a ti?
Que tens tu em querer que eu te siga?
Tu, que fere meus sonhos em pesadelos!
Que faz do meu pesar o meu desespero!
E que faz despedaçar minha alegria em nada!
Tu, a quem sou grato! A quem detesto!
Que faz eu me contradizer!
Que me mostra o caminho e a luz!
Só quem está em trevas reconhece a beleza da luz!
Já ouvis-te antes?
Não, creio que não.
Unges-me!
Que palavra! Que encanto! Que espetáculo!
Profano, não conheço a ti, retiras tu e teus pertences da minha vida!
Pois ainda tenho anseio das coisas divinas!
E do Evangelho quero fazer minha regra de conduta!
Já deverias tê-lo feito há muito!
Mas a escuridão da loucura e da insensatez me oprime.
Deixa eu ser livre!
Deixa eu ser lúcido!
Lá vou-me outra vez!
Tez!
Preconceito!
Talvez eu o tenha!
Ora, meu pai é!
Que tens?
E a aversão, não te lembras?
Sim, mas não parece tão incômodo!
Tu o tens, sossega-te!

Vós,

Se num momento pretendo estar a teu lado
Perdoai tudo quanto tenho feito de insensato
E não queira eu que teu pai se indignes
Do que tenho feito a ti
Porquanto tudo que tenho feito
Muito e pouco
Tem sido de coração
E assim desejo continuar
Caminhando, olhando, cuidando
E escutando toda voz que brota de dentro da minha alma
Em nada censureis aos que choram
E nem tampouco intente teu coração contra os que buscam
satisfazer-se a si mesmos
Ora, não seguindo o que tu queres
Seguem aos seus corações
E aos seus princípios
E ninguém os deve impedir
Porque em verdade nada são
Mas e nós, que somos?
Uma pergunta insensata,
Que deveras está junta a sua respectiva resposta insensata
Nada temos a querer saber sobre isso
Porque não criamos a nós mesmos.
Ora, vejam, parece-me que estou a ponto de estar lúcido
Mas ainda não o creio de todo
Vejam que aqui estou a escrever
Não o que acho certo
Mas o que me ocorre
Essa é a sinceridade da minha alma
Acho que estou a ponto de resgatar
meu inconsciente através da escrita
Que o sejas
Sinto enquanto escrevo, um calor no rosto
E meus olhos se alternam do teclado ao monitor
Sinto minhas mãos formigarem
E a dor nas costas não é tão evidente,
talvez em virtude da minha postura correta,
porém inconsciente
Ao além com as regras ortográficas, com a pontuação
e com as vírgulas
Devo estar a assassiná-las e a negligenciá-las
Mas que importa
Tudo que quero é minha arte a par da minha sinceridade
Da minha integridade espiritual
É isso
Tantas idéias me ocorrem
Tantas palavras que não cessam de me infernizar
implorando a eu colocá-las em algum lugar,
a exteriorizá-las!
Aí estão vocês, palavras.
Se a fortuna fizer com que algum indivíduo
de espírito piedoso as leiam, tanto melhor
E se assim não for, fiquem aí a esperar.
Concedi a vocês o desejo
Agora deixem-me, aproveitar essa vida
A tirar alguma dúvida lá fora, no mundo,
Onde as coisas acontecem!

A queda

Apascentai os que choram, e chorai com os que se alegram
Falai dos audaciosos e praguejai contra os incrédulos
Berrai a prantos a morte do salvador
E regozijai-vos dos desígnios do mestre
Entrei por dentre as portas da Jerusalém
E habitai nos teus tabernáculos
Sê-de incrédulos filhos, sê-de pacientes
Sê-de queridos, sê-de desejados
Porque nada além do às habita o Ser
E por nada se fará um pranto se querer habitar
no seu tabernáculo.
Que hás de haver
Que farás de ti
Que perfídia habita em tudo quanto fazes
E que zombeteira se torna tua mulher infâmia
Que palavras dóceis e afáveis vês
Que júbilo suave sentis
Quando em verdade nada há que o faça ver
O brilho celeste que brota e desce do celeiro celeste
Olhais, não para os montes
Mas para mim
Que cá estou a ajudar-vos
Pedi o que quereis
Desejais vossas paixões como a quem persegue
O lobo
Estais prontos a fazer o que ordeno
E estejais a ponto de uma só canção entoar
Portanto ide, e falai a todos que precisam ouvir
O que aqui ouvistes
E nunca, nunca
Deixais de olhar o pôr-do-sol
Este é o meu sinal.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sozinho

O celular pousado no colo, foninho no ouvido, Mix. Entro no Orkut, dois recados, um de agradecimento e o outro corrente. Fiquei alguns dias sem mandar nenhum recado, exceto o de parabéns a quem fazia aniversário. E como eu pensava, ninguém me mandou recado, nem pra perguntar como eu estou, o que eu ando fazendo, que são perguntas frequentes... Senti qualquer vontade de escrever a alguém, eu queria poder apontar alguém dali, daquela página de amigos, e dizer Em você sim eu posso confiar! Mas não encontrei ninguém. Passava o cursor de amigo em amigo e em nenhum eu senti 'comunhão' para dizer aquelas prezadas palavras citadas acima.
E então eu me pergunto Por que sou tão incapaz de confiar em alguém?! Eu devo ter pego trauma na infância, de pessoas. Acho que confiei demais nas pessoas, esperei delas o melhor, pensei que as pessoas fossem anjos, mas me enganei perfeitamente e quando percebi que as pessoas são o que são, mesquinhas, egoístas, hipócritas, decidi me afastar e me prender a mais profunda solidão. Sabia que sozinho poderia conhecer-me melhor, poderia aproveitar as boas coisas da vida, sozinho. Na minha solidão eu inventaria um mundo perfeito, onde não existisse pessoas falsas, nem violência, nem guerra. Meu mundo seria cheio de alegria, e minha companhia seria meus amigos imaginários, meu mundo seria colorido, feliz.
E num belo dia chega uma daquelas pessoas ignaras, que pensam ser donas da verdade e diz Não se deve viver de fantasias, a realidade é esta, e esta que deve ser vivida. E mostra: trabalho, família, sociedade, comprar, vender, reciclar. E eu digo Realidade de quem? Tua? Quem tem o direito de me impor isso, e dizer que deve ser a minha realidade? A minha realidade é o mundo que eu crio, o mundo como eu o enxergo, a minha realidade sou eu. O mundo é um espelho, e nós vemos nele o nosso reflexo. Como sou, assim ele é.

-

Detesto tanto seguir como conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Aquele que não é terrível para si, não incute terror a ninguém,
E só aquele que inspira terror pode comandar os outros.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
Acocorar-me, sonhando, em desertos encantadores,
De me chamar a mim mesmo, por fim, de longe,
E de me seduzir a mim mesmo.

(Nietzsche - O Solitário)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A chuva

Tardes chuvosas, e eu encolhido no canto do sofá, olhava lá fora, o céu fechado, as gotas batendo no chão, se juntavam a outras que escorriam pelo canto do asfalto. Nesse momento é que eu me sentia absolutamente sozinho. Aquele era o momento mais privado que eu tinha com minhas lembranças. A chuva trazia tantas e tantas coisas, momentos bons, momentos tão diferentes, fragmentos de vida e de felicidade que se passaram e que já não existem, mas que eu os cultivo religiosamente em minha memória. É como se o tempo estivesse parado, como se os deveres a fazer não existissem, como se aquela chuva, caindo ali, fosse exclusivamente para eu vê-la, para eu contemplá-la e lembrar que minha vida era, contudo, boa. Que eu e a chuva tinhamos qualquer coisa em comum, qualquer impressão, qualquer essência. Eu em silêncio, e ela a falar. No toque de suas gotas no chão, na parede, no vidro, eu podia ouvir um doce canto que invadia minha alma, que dizia Somos irmãos. Somos o mesmo, eu e tu, na tua solidão somente eu estou aqui para te amparar, te falar, te fazer não se sentir sozinho. Eu que te mostro neste momento, o quanto a vida tem sido boa pra ti. O quanto tu tens desfrutado dos bons momentos como aquele que passavas com teu avô. Ah, meu avô...!
Transparece em tua face a tristeza ao lembrar-te do teu velho. Lembras de quando saías a passear pelo parque em dias de sol? Te comprava sorvetes, brinquedos, livros, tantas coisas. Quanto te ensinou, quanto foi bom para ti, quanto te amou. Que serias de ti hoje, se ele não tivesse feito por ti o que fez. Agora já não tem ele aqui. E não há nenhuma outra pessoa no mundo que possa te amparar como ele, que possa te ensinar com o amor que ele ensinava, que te faça forte. Terás de aprender a viver sem ele. Choravas quando ele dizia que ia partir um dia, e que era hora de usar o que aprendera com ele. Pensavas tu, que esse dia nunca chegaria, que o destino não seria cruel em tirá-lo de ti. Que a vida sempre fora perfeita com ele, e que com ele não saberias viver. Mas o dia chegou, e o destino levou-o para longe de ti. Foi então que percebeste quão cruel é a vida, e quão solitários somos sem o amor.
Pensamentos tão melancólicos, tão tristes, acompanham todos os meus dias. Trazendo e levando. Assim faz a chuva que continua a cair, lentamente, branda, serena.

sábado, 29 de agosto de 2009

Nós somos

Meu, foi tempo pakas! Pensei que nem existisse mais esse meu espaço aqui. Mas ele está aqui e vamos aproveitá-lo. Afinal, nada mais efetivo que demonstrar nossos sentimentos através da música e da escrita. Então, vamos escrever. Eu pensei várias vezes até em dispor aqui algumas composições minhas, mas não sei se é jogo. Se alguém aqui gosta de música erudita iria gostar. Tem algumas pra violino, piano, trompete. É incrível como algumas melodias ficam por dias na nossa mente, martelando, como algumas frases também, que enquanto você não as joga no papel elas não sossegam. Parece uma coisa mística, sei lá, elas simplesmente aparecem. Eu cansei de sentar na frente do computador para compor, e as melodias vem surgindo, e são lindas! E da onde vem tudo isso? Será um anjo que mas envia? Quem sabe. Eu acredito nessas coisas.
Estou cursando RH numa facul aí de Curitiba mas definitivamente não é isso que eu quero. Gosto só da Psicologia e do Comportamento Social que tem lá. Folha de pagamento, Empreendedorismo, Leis Tributárias, meu, tudo isso é tão chato! O fato é que eu sou um cara extremamente subjetivo, autista por vezes. Só não sei se essa minha subjetividade vai me atrapalhar nesses tempos. É evidente que meu caráter não combina nem um pouco com tecnologia, múltiplos sistemas de comunicação, e contas e mais contas. Se eu fosse objetivo e gostasse de matemática me daria muito melhor, mas enfim, eu sou como sou e isso não vai mudar. Às vezes eu penso até que nasci numa época errada. Cansei de ler sobre os compositores românticos do século XIX, e aos 15 anos eu era tão obcecado por tudo aquilo; os homens com suas cartolas, paletós e escrevendo com nanquim. Nas suas carruagens, passeando pelas ruas de Viena, a "Cidade da Música". Mas cá estamos nós, em pleno século XXI, em meio a tantos conflitos e revoluções no mundo. E, querendo ou não, nosso espaço sempre há de estar à disposição. Podemos ainda revolucionar o mundo! Nós, quem? Nós, românticos, músicos, artistas, revolucionários! Prepotência? Claro que não. Hoje, graças aos meios de comunicação temos toda a História embaixo do nosso nariz. E somando isso à nossa infinda capacidade de criar, podemos sim, nos sobressair. A princípio, vou cursar Música e Filosofia e mais pra frente aí, vamos ver o que dá. Otimistas sempre, e caminhando, nossa bandeira há de hastear.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Família

Compreensão e reconhecimento, é o que todo mundo precisa. Eu queria usar esse espaço para dizer quão grande é minha gratidão por essas pessoas tão prestigiosas que estão tão perto. Eles são amáveis, compreensivos, fortes, batalhadores, insuperáveis, minha família. Meu pai é gráfico, impressor. Lembro de quando meu pai tinha de pegar quatro ônibus para chegar no serviço, trabalhava do outro lado de Curitiba. Quando ele de manhã saía para o serviço, eu e meus irmãos estávamos dormindo, quando ele chegava, também já estávamos na cama. Falávamos com ele só nos fins de semana. Ele nunca podia sair com a gente, tinha que descansar. Sempre batalhando para conseguir pagar as dívidas e criar os filhos. Ele sempre teve um sonho, que era trabalhar por conta. E ele sabia que um dia esse sonho se realizaria. Chegado um momento vendeu nossa casa, e conseguiu montar a gráfica. Hoje, todos trabalhamos juntos, para nós mesmos. E hoje eu percebo o quanto foi doloroso todos aqueles anos de sofrimento para meu pai. Mas valeu a pena, e hoje com 45 anos ele já realizou um de seus maiores sonhos. É um verdadeiro herói.
Minha mãe sempre trabalhou fora como diarista, para ajudar no orçamento da casa. Chegava sempre muito cansada, ainda limpava a casa, preparava o alimento, e dava atenção e carinho para nós. Sempre foi muito presente, nas reuniões da escola. Sempre nos apoiou nos estudos e sempre nos defendeu. Em nenhum momento minha mãe nos abandonou, sempre demonstrou através de gestos e ações seu amor incondicional. Hoje, ela já não precisa trabalhar fora, mesmo assim ela insiste. Usa o dinheiro dela para comprar apenas tecido e confeccionar suas roupas. A renda da gráfica dá conta de todas as despesas da casa. E tudo graças ao tremendo esforço de meu pai e apoio de minha mãe. Ambos sempre nos ensinaram a ser honestos. Meu pai nos ensinou a ser comunicativos, e minha mãe nos ensinos a ser amáveis, sensíveis e compreensivos. Somos uma família verdadeiramente unida.
Meu irmão, que é apenas um ano e cinco meses mais velho que eu, sempre me acompanhou. Na infância vivíamos juntos, ele nunca deixava ninguém me bater. Sempre se doía por mim e me defendia. Apesar das brigas, sempre demonstrou seu amor e cuidado por mim. Partilhava tudo, nunca me deixou sozinho. Sempre reconheceu os nossos direitos. Quando eu estava na 1ª série, e ele na 2ª, mostrou-se solícito para me ensinar a ler e a escrever. Aprendi muito rápido, tinha facilidade com as palavras. E seu apoio foi indispensável, graças a ele eu percebi o grande valor que tem um irmão. Verdadeiramente um companheiro.
Minha irmã é sete anos mais velha que eu, e claro, ela apoiou imensamente minha mãe. Cuidava de mim e de meu irmão, fazia o essencial. Começou a trabalhar muito cedo, como babá. Estudava, trabalhava, e ajudava minha mãe a cuidar da casa. Muito carinhosa, também sonhava com o futuro. Trabalhou bastante e hoje já está casada. É muito feliz com seu marido e sua casa. Sempre vamos visitá-la e nos trata com muita cortesia. E eu espero com expectativa um sobrinho. Ainda não engravidou, mas espero que logo...
É basicamente o que temos vivido em família. Dificuldades sempre tivemos, mas nada que não pudemos superar. E com a ajuda de Deus creio que realizaremos nossos sonhos.

domingo, 29 de março de 2009

Ela se foi

Hoje eu tive que terminar mais um relacionamento. Contra minha vontade, mas fui obrigado. Eu a amava, mas infelizmente se continuássemos juntos eu comprometeria meus princípios. E eu não quero perder assim tudo o que eu demorei pra conseguir. Foi triste. Ainda ontem eu prometia pra ela que nunca a abandonaria, que nunca a trocaria por ninguém. E hoje tudo se desfez. Não vou conseguir esquecer tão cedo ela chorando e dizendo Você disse que não ia me deixar, Você prometeu. Mas agora é tarde, não há nada a fazer. Só temos que aceitar. Ela me fez tão bem. Eu não queria que acabasse assim. Eu planejei tantas coisas, eu sonhei tanto, e agora tudo é passado, e nada vai mais voltar. Vou seguir em frente.
Sistema de valores. Não existe escolhas assim. Ou você segue sua consciência ou você vive de mal com você mesmo. E eu não quero viver de mal comigo. Eu tinha que escolher, ou ela, ou meu ministério. E eu escolhi o ministério. Bom, o certo é que eu vou ter mesmo que esquecer ela e tentar um futuro com alguém do lado de cá da cerca. Como dizem A paciência é uma virtude. Tenho que cultivar agora essa virtude, até porque encontrar outra como ela vai ser difícil. Era tão bom estar com ela. Quando ficávamos no sofá ou quando deitávamos na varanda. Os abraços e os beijos eram os melhores. Foi tudo tão bonito, ela era mesmo uma princesa. Vou sentir muito a sua falta, mas não dá para ficar se lamentando. Foi bom, acabou, a vida continua. Passado eu quero mais é jogar um véu branco e esquecer. Vou me empenhar e construir um futuro, eu quero viver, e viver bem.
Por mais que eu a esqueça, as boas lembranças do nosso amor sempre vão estar gravadas em mim. Desejo toda a felicidade do mundo para ela. Ela fez muito para que a gente pudesse ficar juntos. Ela também lutou, e eu considero muito o que ela fez. Eu queria mesmo, de coração, passar o resto da minha vida ao seu lado, mas não posso. Sentirei a sua falta.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Grande Ilusão

E aquele cara pulando no tablado e gritando por Jesus! Ele era eloquente, articulado, sabia o que estava fazendo. Dominava totalmente a intensidade da voz. Sabia quando era hora de falar baixo e concentrado para atrair a atenção e quando tinha de gritar e fazer o povo esbravejar Amém. Num momento eu fitei seu rosto moreno e fosco. Aquela expressão de agonia. E com a ajuda da luz que vinha da única lâmpada acesa em frente ao tablado eu vi que lágrimas corriam pelo seu rosto. Eu só não sei se eram de emoção deveras, ou se era de tristeza por ter de ficar todo aquele tempo em pé, andando pra lá e pra cá, tagarelando e encenando. Opa! Falei demais? Não, creio que não.
De a pouco desce o rapaz moreno de cabelos longos, e sobe um gordo. Aee, agora sim, era o pastor. Ele começou seu discurso de uma forma curiosa, com o famoso pensamento cartesiano "Penso, logo existo". Começou a tagarelar sobre o existencialismo. Cara, e o que isso tem a ver com o Evangelho? O que é isso? É evangelização, aula de Filosofia ou mostra de erudição? Ele queria impressionar. Mas ainda acho que falar de filosofia para um bando de ignorantes não era o melhor caminho. Poderia confundir a cabeça dos fiéis e atrapalhar na renda dos trocos depois.
À minha frente, bailava duas moças ao ritmo da bateria. Ora corriam ora saltavam. Até que parou a bateria, o rapaz do tablado falava quase sussurrando, com os olhos contraídos, e as duas moças sentaram no chão com as pernas cruzadas e com a cabeça entre as pernas. Permaneceram assim uns 15 minutos. Eu imaginava a dor daquelas duas, naquela posição tão desconfortável por tanto tempo. Que tortura. E o pior que elas não recebiam nada daquele dinheiro que ia no saquinho. O pastor nem pra dar, sei lá, uns 20% daquele dinheiro pra elas. Que egoísta. Saí lá fora, todos se dirigiam para suas casas, a pé, obviamente, e o pastor em seu belo carro seguia, alegre, contente, missão cumprida.
Aqueles jovens que lá dentro faziam cara de choro, franziam a testa, apertavam os olhos, e repetiam tudo o que o rapaz moreno e loquaz dizia, agora lá fora tratavam de banalidades, dispersos, iludidos, contentes. Só queria saber por quanto tempo ainda aqueles jovens vão viver na ilusão de ter alcançado a verdade.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O Presente

Liberdade. A arma da felicidade. Livre só é aquele que luta para ser livre. Aquele que luta para conseguir fugir da inércia do dia-a-dia. Aquele que luta para fazer da realidade a mais doce fantasia. Afinal, realidade nada mais é do que aquilo que chamamos realidade.
Eu perdi pedaços de mim nessa trajetória, por criar tantas expectativas, por esperar tanto das pessoas, por desejar a glória infinita. E isso tudo veio a despencar num momento e se transformar em frustração, decepção, fadiga. Mas o tempo passou. E eu superei tudo isso. E agora já não crio expectativas, não espero nada das pessoas, nem desejo glória infinita. Aprendi a amar tudo o que é meu. Aprendi a valorizar meus talentos. Aprendi que a vida não merece tanta atenção. Tudo é tão passageiro, tudo é tão rápido. Num piscar de olhos o dia já foi. E quando ficamos pensando e pensando no futuro, esquecemos que há um presente, que deve ser vivido e desfrutado com todas as nossas energias.
Por isso tudo eu já não penso mais na faculdade, já não me importo se meus amigos vão me amparar quando eu precisar, já não sei se no futuro vou estar com essa garota, não me importo com aquilo que não conquistei, não quero mais pensar se vou conseguir dinheiro um dia para comprar um carro, uma casa, uma bicicleta, sei lá. Não me importo em ter roupas bonitas, não me importo se serei um grande homem, não me importo com o passado, não me importo mais com minha imagem, eu simplesmente não me importo.
Agora basta deixar que a vida me leve para onde eu tiver de ir. Nós não podemos criar oportunidades, mas sim desfrutar delas quando surgirem. Não cabe a nós nos ocuparmos com o que haverá de acontecer. E sonhar não é necessariamente, se ocupar com o futuro. Sonhar é imaginar um futuro que pode acontecer e não que deve acontecer. Sonhar pode ser mais que isso, é viver o futuro da forma mais bela e encantadora, e sem compromisso.
Que o vento sopre, que as pessoas se amem, que o mundo mude, que tudo vá pelos ares, não nos importamos mais, apenas vivamos o presente, e esqueçamos o resto.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sonhos

Bom, cá estamos mais um dia. Felizes, na verdade. Malgrado as dificuldades, hesitações, frustrações, obsessões, estamos felizes. Cada um de nós ama a alguém, cada um de nós cultiva sentimentos, cada um de nós busca a verdade sobre tudo. Tudo isso é verdade, ora, se não fosse assim com algum de vocês, não estaria aqui. Não estaria neste momento, lendo este texto que trata apenas das coisas mais nobres que habitam o ser humano: a verdade e o sentimento.
Será que todos nós, paramos algum dia, e perguntamos para nós mesmos: o que eu quero de verdade?
Eu tinha um sonho, queria entrar para o conservatório e ingressar na orquestra. Consegui. Hoje já não estou mais, nem no conservatório, nem na orquestra. E aí? Será que era meu sonho mesmo? Ora, ele se realizou. Um sonho é aquilo que você mais quer na sua vida. Um sonho é a meta primordial. Se tivesse mesmo sido um sonho, depois de realizado eu não o deixaria ter escapado assim, pelo vão dos dedos, levado pelo vento. Talvez não tenha sido mesmo um sonho, mas naquele tempo, eu me apegava a ele com todas as forças. E hoje, eu vejo, o quanto evoluí por causa deste desejo, que eu pensava ser um sonho, mas não era. Batalhei, e consegui. Mas depois da recompensa, eu caí denovo num profundo vazio. Porque depois da realização, não tem mais nada. Você mergulha naquele mar branco, do silêncio. E fica se batendo até achar outro desejo, e fazer dele outro sonho. E então, você vê, que você cresce quando sonha. E não quando o sonho se realiza. Porque na realização, você vai apenas desfrutar de todo o seu trabalho, de todo o seu esforço. E não crescemos, quando desfrutamos. O sonho nos faz crescer.
O sonho é uma ilusão. O sonho é um desejo descontrolado, que faz você batalhar, correr atrás de algo, que vai acabar um dia. Mas sem essa ilusão não vivemos. Sem essa ilusão, nosso mundo fica ainda mais vazio, não amamos, não compartilhamos, não nos alegramos, não fazemos a vida ser bela. Por isso, sonhemos! Amemos! E sejamos felizes!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vida Secreta

Todos os dias quando em silêncio, ou em minhas orações, eu tento mergulhar para dentro de mim mesmo para buscar algo novo, para poder enxergar a luz da minha alma, mas, por vezes, parece inútil. Sabe, seus pais falando em trabalho e dinheiro, seus irmãos falando de roupa e carro, seus amigos falando de férias, praia, escola, vaidade. E aí você olha para todos os lados, quando desiste de procurar nas pessoas, olha para a lua, olha as estrelas, com esperança de enxergar algo além do que somos obrigados a ver todos os dias. Mas nem lá, nem em parte alguma da natureza você encontra o que procura. Então eu fecho os olhos e tento imaginar alguma coisa. Algo que faça eu esquecer por um breve momento tudo o que se passa aqui, e então ver um imenso mar branco, vazio, nada mais que isso.
Quando as crianças crescem, aprendem a se comunicar, aprendem sobre o seu corpo, sobre os objetos, sobre o mundo e sobre fantasias. Mas, por que, nunca ninguém diz a elas que elas têm uma alma? Que depois deste corpo, que contemplamos toda hora, temos uma alma, que não vemos, mas que ela esta ali... O materialismo toma conta destes pequenos seres humanos, desde a sua meninice, e aí quando eles chegam aos 12, contam-lhes que eles têm uma alma. Quando os pais não lhes passa essa informação, apreendem-na na escola, ou na igreja, ou com uma pessoa mais velha. Mas com 12 anos, muitas já não conseguem mais acreditar nisto. Outras fingem acreditar. Mas uma a cada dez crianças, lançam todas as suas forças à alma, e amam-na, como amam a seus pais, ou mesmo até mais. Essas poucas crianças, quando crescem, conhecem o objetivo da vida. Conseguem amar a seus amigos verdadeiramente, amam a seus pais, aceitam as decepções, zelam desta nobre alma e, acima de tudo, acreditam em Deus.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Redundância

Imaginem que a cada segunda-feira você tem a impressão que está começando uma nova vida. Claro, é só impressão. Porque ao decorrer da semana, lá por quarta ou quinta-feira, você percebe que você é o mesmo, fazendo as mesmas coisas, com os mesmos gostos, e pensando as mesmas bobagens de sempre. Sem contradições, por mais que tudo seja sempre a mesma coisa, lá no seu inconsciente, alguém está sempre dizendo Não, você está mudando, olhe para você mesmo e veja o quanto você evoluiu! Sei lá, quem sabe.
Aquela coisa do sorriso sabe? funciona. "A maior felicidade é quando se está feliz sem motivo"."Sorria para tudo e para todos, vamos lá, pareça um idiota e encontrará a felicidade". É, funciona também. Outro dia, eu fiz um teste, saí de casa rindo, para ver o resultado do meu teste no Belas Artes. Não passei. Mas tirei 9,9 em teoria. Fiquei feliz. Me embriaguei de felicidade aquele dia. Por vezes, lágrimas enchiam meus olhos dentro do ónibus e sorriso nos lábios. Era bom. Tudo parecia enfim, criar vida. Todos pareciam honestos e o mal não estava em lugar nenhum. Até do cara, cavando um buraco, eu achava graça.
A vida está aí, sempre vazia, para que enchemos-la com alguma coisa. Cor ou obscuridade. Nós a fazemos. Às vezes faltam forças para darmos uma cara à vida. E então ela parece vazia. Sabemos que ela é vazia quando nós a deixamos assim. Quem sabe um dia achemos a fórmula para deixá-la sempre viva, sem gastarmos tanta energia...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Hare

Lembro ainda daquele dia que o Fernando defendia a direita. "Pra que mudar um sistema que está dando mais ou menos certo?". Acho que nessa hora ele não lembrou que o mundo inteiro estava em crise. Para um cara como ele é fácil. Tem tudo o que quer, a hora que quer... Agora pergunta para aquele coitado, que trabalha de segunda à sábado, e o salário mal dá pra pagar o aluguel. É... estudar em colégio particular é bom, comer do bom e do melhor também é legal. Ter um carro à disposição também é muito bom. Sem falar que é fácil para ele bancar uma Unicemp. E nós, que dependemos das universidades públicas? Me diz agora Fernando? Como que eu posso passar numa Federal, estudando a vida inteira em escola pública?
É. Muito fácil dizer que o sistema é uma maravilha quando beneficia vocês... bando de burgueses...