segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Vulnerabilidade

Cansei de tanta hipocrisia. Eu falo tanto sobre isso, mas parece que no fundo eu não passo de um rosto bonitinho querendo ganhar a vida assim. Acho que não passo de uma aparência, uma máscara, um falso-self, querendo mostrar um lado bom às pessoas, querendo mostrar quem eu não sou na realidade. Isso é irritante, é ostensivo. Por vezes tenho vontade de me torturar por isso. Mas eu definitivamente cansei. De agora em diante quero ser meu self verdadeiro, nada de personificações, nada de representações, nada de tentar ser outros. Não é porque aquele meu amigo é legal com suas ações, suas palavras, que eu tenho que ser como ele! Onde eu estava com a cabeça quando aquiesci isso?! Agora tenho fé que posso ser tão legal e simpático como os outros sendo eu mesmo, talvez eu possa me revelar um monstro na presença dos outros, ou talvez um doce de pessoa. Fato é que vou ser eu mesmo, de agora em diante, é assim que se cresce. Doa-me o quanto doer, que me torture o cosmos cada vez que eu não for eu mesmo!
Quanta palhaçada. Eu amo música, sou taciturno, vaidoso, amo estar com eles e elas, que tal ser eu mesmo? Bom, que o sejas, de agora em diante tem que ser assim! Alguém aí, se ler pode murmurar entre dentes Nossa, demorou tanto pra descobrir isso! O fato é que desde sempre eu soube disso e sinceramente tentava praticar o self-encarnado, mas enfim, a hipocrisia é tanta que quando pensava ser, não era. Mas agora, mais do que nunca, eu vou levar isso com seriedade. Nada de sorrisos maquiados, nada de palavrinhas amáveis quando me sinto péssimo. Nada de falsas tristezas quando estiver excitado, nada de assuntos que não me interessam. Muito teatro, muito música, muita leitura boa, muito amor, muita lágrima, muita tristeza, muita floresta, muita magia enfim, realidade ou fantasia, só quero fazer o que tiver de fazer espontaneamente. Chega de mentiras e hipocrisia. E aquela garota... vai ter que ouvir umas boas verdades! Eu não amo ela, inventei tudo isso como mais um sinal de minha falsidade, mas tudo será colocado em pratos limpos agora. Tudo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Bom

Certa vez me mandaram crescer. E eu me perguntei o que era crescer? Em quê aquela pessoa queria que eu me tornasse? Um homem estressado e atarefado com muito trabalho e conta pra pagar, um homem que acha que ser pai é trazer o pão para a mesa apenas, e que esquece que mais que isso, dar carinho, atenção, amor aos filhos é educá-los, é ser pai.
Aí está o senso de direção das pessoas. Crescer é deixar de fazer o que se fazia quando criança, é se preocupar com "coisas maiores", trabalho, estudo, dinheiro, trânsito, política. Estas são as coisas maiores. Quanta prepotência e ignorância num lugar tão pequeno. Se isso é crescer, prefiro continuar pequeno, e ser quem sempre fui. Acocorar-me e seduzir-me a mim mesmo - como dizia Nietzsche. Olhar de dentro do carro lá o horizonte, o sol se pondo maravilhosamente, os pássaros a voar em frente àquela natureza tão bela. O vento que lentamente faz os galhos se inclinarem e tremem suas folhas verdes, tão vivas. A aragem batendo no rosto, a cabeça levemente inclinada para trás, sem se preocupar com o mundo pequeno, apenas a sonhar, a sonhar sempre. A sensação branda da paz, o espírito da natureza que me leva para seu mundo de sonhos, seu mundo verde e florido, de sol, de raios, de sons, de água, de luz, de tato e de cheiro. Que paz. Que alegria contida, que sensação boa de liberdade. Sensação de estar em harmonia com o universo, sensação de bem estar, de direção, de repouso, do divino, do eterno, do belo. Como é bom viver. Como é bom ser nós mesmos. Como é bom aproveitar essa vida maravilhosa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mundo

Me pergunto de instante em instante a quê devo seguir. Afinal, o que devo fazer, qual é mesmo o caminho. Qual das minhas idéias e ideais é a verdade, e por que é tão difícil descobrir. Quando olho no espelho, vejo a figura de um garoto que não dá mostras de ter mais que 16 anos. Mas aí quando lembro que sou de maioridade, tento me conscientizar das responsabilidades que me ensinaram, dos caminhos que me propuseram, ou dos que me foram muitas vezes impostos. E por um momento eu me vejo convicto de assumir essas responsabilidades e de seguir esses caminhos. Mas de a pouco estou lá novamente, vivendo em favor do meu mundo. Que mundo é esse? Um mundo absolutamente distante e estranho a qualquer um destes paradigmas que tentaram me impor. É onde eu encontro as ocupações com que me identifico, é onde está o conciliador das minhas pré disposições. Eles não conhecem esse meu mundo, sabem vagamente que eu vivo em favor de "outras coisas", mas estão longe de descobrir que coisas são essas.
O dinheiro nunca me atraiu. Por vezes sinto mesmo aversão ao dinheiro. Pelos ambiciosos, minha repulsa é inata. De maneira nenhuma vivo em favor do dinheiro. Eles querem que eu faça isso, mas eu não quero. Hoje ainda pensei, num segundo, que o sentido da vida na terra seria trabalhar, ganhar muito dinheiro e viver bem. Mas senti aversão logo à essa idéia. Sei bem que muitos vivem em favor disso, mas não eu. Eu vivo por outras coisas, e ocupo meu tempo com elas. Minha maior irritação é quando me tiram do meu mundo, e tentam me colocar no deles. Às vezes chego a detestá-los por isso, sei que nada posso fazer. Minha máxima é que o maior pecado da humanidade é a hipocrisia. Eu tento ser sempre sincero, e por isso, detesto cada vez mais o mundo deles, ao passo que amo ainda mais o meu. Ainda que enlouqueça, não vou ser escravo do dinheiro, nem das ocupações triviais e superestimadas dessas pessoas.
Ninguém pede para vir ao mundo, e se vem, deve ter ao menos o direito de escolher qual caminho seguir. E eu escolhi, estou seguindo, sempre contente, por minhas estradas, com minhas carruagens, nessa grande corrida para a luz.
Agora vou orar e dormir. Sei que amanhã vai ser um dia como os outros, faço o que eles querem forçosamente, e sempre com a cabeça no meu mundo. Eu não penso no futuro, não que eu não queira, é que não consigo. Pra mim, a vida é o agora. Santo Agostinho já dizia que não se pode raciocionar em um tempo que não existe: o passado e o futuro. Tudo que temos é o presente, e é por isso que quero desde já ser seguidor de minhas vontades, e não escravo das deles. Deixa eu correr, deixa eu mergulhar de cara nesse mundo, aí está você, sempre sorrindo, sempre de braços abertos, cá estou eu, vamos viajar juntos e chegar ao nosso destino.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Medo

Eu sou aquele que anda pelos vãos à meia-noite.
Que some na escuridão do abismo sem retorno,
Quando me vêem já estou a cercá-los
Por todos os lados.
Se amedrontam, e fazem
Expandir seu medo por todo o cosmo.
Seus gritos e gemidos se tornam uivos hediondos.
Os rostos tristes e melancólicos trazem
Na figura as marcas da morte e da dor.
Seus passos são errantes,
Sua tez é escura como carvão esfregado
Em piso branco.
Sua voz esganiçada chama os lobos,
Seus lábios trêmulos e ferozes
Impunham-lhes medo e fazem seus cabelos arrepiarem
Até ao chão dos seus pés.
Em meio à madrugada saem às ruas
E sua sombra é mais que suficiente para espantar multidões.
Os dentes tão brancos e tão reluzentes
Brilham à quilômetros.
Atraentes, predadores, noturnos,
Saem em busca da sua energia.
Os cabelos longos e lisos
De um castanho avermelhado de doer os olhos.
Sua beleza e magnificência chegam ao pico
De um padrão extravagante.
Assim mudam, ora monstros, ora príncipes.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Diga

Oi, eu não preciso
Nem do teu dinheiro
Nem do teu tempo
Nem da tua atenção
Nem da tua vela.
Olha pra mim e diz
Quem pensa que eu sou?
Um monge? um súdito? um miserável?
Diga o que quiser
Talvez um dia você acerte
Mas olhe pra mim
Eu pareço bom?
Pareço?
Finja lá fora que não me viu
Porque eu não estou aqui
Eu não estou aqui.
Vivendo por viver
Sem falar nem sentir
Sem ao menos dar valor
Então me diz se eu posso continuar assim
Com essa mente miserável
Com meus trapos
Com minhas desconfianças
Com minha vida que não vale nada.
Num mundo onde ninguém
Pode ser o que é
Ainda mais eu, que sonho
E penso em liberdade.
Eles te amarraram e querem
Que você obedeça
Mas não se submeta
Indigne-se e grite
Você não precisa fazer o que eles querem
Grite.
Diga a todos quem você é
E o que quer
Era pra ser assim
Não desista ainda
Você ainda tem forças.
Resista, continue
Você está quase chegando
Chegando na linha de chegada
Chegando no seu objetivo
Então continue
E faça-se ouvir a tua voz.
Grite bem alto
Sim, grite para todos saberem quem você realmente é.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Elas

É tão bom escrever. Esse monte de palavras, todas postas em ordem, ou não, mas formando sempre um painel, extenso e lindo. Tantos assuntos pra se tratar, tanta gente pra falar, tanta música pra tocar, tanta coisa pra fazer, mas enfim, vamos escrever. Sobre as flores, sobre o mar, sobre família, sobre amigos, sobre o fogo, sobre a água, sobre a vida, vamos escrever. É tão bom! E as bibliotecas, que lugares maravilhosos. Aquela imensidão de livros, todos empilhados, amontoados, enfileirados, sistematicamente postos um ao lado do outro - esbanjando conhecimento. Uma fortuna de riquezas, uma fortuna de preciosidades. Se eu pudesse, passaria todo o dia e a noite lá dentro, a ler, a ler, a ler...
Mas também teria de passar tempos e tempos numa escola de Artes. Só o nome já faz com que meus olhos brilhem: Teatro, Pintura, Música, Desenho, Escultura, Artes Plásticas, Literatura...
O que mais me atrai nesse mundo é a Arte, e a Religião, e a Filosofia, e a Psicologia. Sem falar delas - criaturas maravilhosas, as obras-prima da Natureza, seres de tão delicada feição, de tão atraente tez, e as curvaturas do corpo, e o falar doce, os dentes brilhantes, os cabelos tão perfeitos, tão lisos, tão cacheados, tão chamativos, tão atraentes, a boca tão perfeita em seus contornos, todo o corpo de um deslumbre e beleza vibrante, fazem meu o coração palpitar, a querer saltar, fazem meu corpo estremecer, meu espírito ficar exaltado, e meus sonhos se tornarem cada vez mais altivos. Elas - que me fazem querer buscar cada vez mais e mais no prazer tempestuoso e nas carícias ternas. Com seus olhos faiscantes me atraem e com sua voz de canto me consomem. Tais são elas, mulheres, criaturas tão exuberantes, que fazem da minha vida o que ela é, tão altiva, tão ousada, tão sonhada, tão vivida.

Passageiro

Como viver é bom..! No filme brasileiro Quase Dois Irmãos, o protagonista diz num momento: "Existem duas vidas. Aquela que vivemos e aquela que sonhamos." Bom quando essas duas se encontram, e conseguimos aproveitá-las. Nossas fantasias às vezes se tornam realidade e isso que parece colorir a vida. Ainda que cansamos, ofegantes continuamos seguindo, sempre esperando um futuro melhor. E esse futuro vem, inevitavelmente, o tempo vem. Já o que acompanha o tempo só nós podemos decidir.
A vida é tão doce, ela dá tantas voltas e se encontra sempre num ponto bom, de paz e tranquilidade, como estou aqui agora. Sei que de a pouco alguém pode se irritar perto de mim, ou até mesmo eu, mas e daí? Sempre passa, o sol sempre aparece depois, e a vida sempre volta a ser bela. Não me preocupo mais com os momentos de turbulência - são tão passageiros.
Existe o amor, a amizade, o carinho, o sol e as flores. Que adversidade pode ser maior que tudo isto? E bem maior ainda temos lá em cima Ele que cuida de nós. Então não há com o que se preocupar. A vida também é passageira, e creio que temos que correr - não afobados para fugir de algo, mas sim para fazermos o máximo de coisas boas e do bem nessa vida. Ler o maior número de livros, abraçar o maior número de pessoas, passar por quantos lugares pudermos, enfim, vamos correr, precisamos fazer o bem.